O Leblon de Jacarepaguá
Com a construção de imóveis de alto padrão, o bairro da Freguesia desponta na região onde foi erguida uma de cada quatro novas unidades do Rio no ano passado
por Thaís Meinicke | 17 de Julho de 2013
Luciana Calhau com a filha, Julia: moradoras da valorizada Rua Araguaia
Poucas áreas do Rio sofreram uma transformação recente tão grande quanto a Freguesia, na Grande Jacarepaguá. Marcado até alguns anos atrás pelo casario baixo, pelo comércio tímido e por um certo ar de cidade do interior, o bairro mudou radicalmente seu perfil. Agora, assomam na paisagem prédios imponentes, conjuntos residenciais planejados e centros comerciais com ampla oferta de serviços. Um passeio por suas ruas revela uma série de empreendimentos recém-inaugurados ou em construção, com a proliferação de condomínios dotados de academia, parquinhos, salão de festa e até cinema. Segundo dados da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-RJ), um de cada quatro imóveis lançados na capital em 2012 ficava em Jacarepaguá. Das pouco mais de 5 000 unidades ali erguidas, 1 500 delas tinham como endereço a Freguesia. Devido ao boom de imóveis de alto padrão, aquele trecho vem sendo chamado de "Leblon de Jacarepaguá". Não por acaso, no período entre junho do ano passado e junho deste ano, o metro quadrado na Freguesia valorizou-se 20%, uma taxa semelhante à verificada no Leblon e maior do que a registrada em todos os demais bairros da Zona Sul.
O bota-acima a que assistimos no local é um desdobramento da expansão imobiliária pela Zona Oeste, que se iniciou na década de 80 na Barra da Tijuca, avançando rumo ao Recreio e, mais recentemente, se difundiu na Baixada de Jacarepaguá. Alguns fatores convergiram para essa ocupação, impulsionada por uma mudança na legislação municipal. O boom começou em 2004, quando a prefeitura aprovou o Projeto de Estruturação Urbana que flexibilizou os parâmetros de construção na zona que engloba Pechincha, Taquara, Tanque e Freguesia. Essa última, encarada como o filé-mignon e que há muito atrai os abonados das redondezas, ganhou um impulso maior. "A Freguesia sempre se destacou naquela área. Era natural que chamasse mais a atenção dos investidores", avalia o subprefeito da região, Tiago Mohamed. Contribuiu também o fato de aquele trecho urbano ficar próximo a vias de grande circulação, como a Linha Amarela e a Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá. Até 2015, a malha viária será ampliada com a abertura da Transolímpica (Recreio-Deodoro) e da Transcarioca (Barra-Galeão). "Quando o governo decidiu apostar na Barra como eixo central e deslocou para lá investimentos de acesso e infraestrutura, toda a vizinhança foi valorizada e foram criadas novas minicentralidades, entre elas a Freguesia", afirma o urbanista Luiz Fernando Janot, professor da UFRJ.
Se os lançamentos em profusão são sinal de progresso e trazem inegáveis benefícios, é preciso ter cuidado para evitar o crescimento desordenado que periga pôr em risco todas as qualidades da região. Para evitar a saturação e buscar soluções de infraestrutura, a prefeitura editou em 16 de maio um decreto que suspende por sessenta dias o licenciamento para novas construções. A decisão foi comemorada pelos moradores mais antigos do bairro, cuja origem remonta a 1661, quando foi criada a Freguesia de Nossa Senhora do Loreto e Santo Antônio de Jacarepaguá, uma das primeiras povoações do Rio. Entre o charme do passado, a pujança do presente e a precaução com relação ao futuro, a Freguesia busca o equilíbrio.
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